Sobre mudanças e como vejo o sol
Da janela do apartamento novo que estou morando, vejo o pôr do sol.
Pelos últimos 10 anos eu não vi o pôr do sol da janela de casa, já que eu morava num apartamento de face norte, ou seja, que pega o sol da manhã.
Já houve época em que eu acordava antes do sol, e portanto não via ele nascer. Quando ele chegava eu já estava a meio caminho da Avenida Higienópolis, onde eu trabalhava e precisava chegar antes das 7h.
Houve época que acordava junto com ele, e conseguia vê-lo um pouquinho antes de sair ~ invariavelmente atrasada ~ para aquele trabalho que não me alimentava mais há tempos, no sentido oposto da cidade em relação ao emprego anterior.
Nos últimos anos, depois de entender melhor as minhas necessidades e as do meu corpo, me encontrei poucas vezes com o nascer do sol, posto que a prioridade de dormir até pelo menos depois das 7 foi colocada. Mas eu gostava do sol da manhã. Até 11h ainda é manhã, afinal.
Quando falava de mudar de casa, dizia “sol da manhã, varanda, janela no banheiro”. Esses eram os pré-requisitos para meu futuro apartamento.
Olha que irônica a vida. No apartamento novo que estou morando também não tenho janela no banheiro. E a varanda é o único espaço possível para meu escritório. Escritório não, escritórios me dão a sensação de um tipo de trabalho que me aprisiona. Minha nova varanda é minha clínica.
I’m going through changes…
Escrevo este texto enquanto, ironicamente (ou não) Ozzy Osbourne canta esses versos que negritei com sua filha, numa versão bem melhor que a original, e ainda sob a tentativa de organizar a nova moradia. De fazer os 70m² do apartamento anterior caberem nos novos 31. É claro que eu sei que não é possível, não me tomem por essa ingenuidade. Desapeguei de muitas coisas que acumulei num apartamento grande demais só para mim, e abarrotei a casa dos meus pais com um montão de outras coisas, das quais não quero me desfazer. Baita exercício para quem tem um certo apego material!
Não senti muita falta de nada não, Marie Kondo ficaria orgulhosa. Senti só certa falta dos livros. 90% deles (e são muitos, muitos mesmo) estão sob a custódia dos meus pais. Ainda fiquei com um tanto significativo, que não vou dar conta de ler nos próximos 4 meses, mas a maioria dos que ficaram, consulto para o trabalho, e me trazem conforto e sensação de lar no pequeno apartamento azul em que me encontro.
Mudar nunca é tão simples. Mudar mais ou menos de supetão, sabendo que outra mudança ainda maior e mais significativa vem em breve, é menos simples ainda. Não quer dizer que seja ruim. Pelo contrário, significa que algumas coisas que vim pedindo de todo o coração nos últimos anos, finalmente estão vindo ao meu encontro. Significa encarar e desarmar minha rigidez, significa aproveitar a jornada sem tanta necessidade de controle e significa me espantar com o pôr do sol na janela e correr para registrar: “Socorro que lindo!”, e perceber que no dia seguinte ele está lá de novo, e no outro também, e no outro, mesmo sabendo que a próxima mudança terá bem menos sol e mesmo assim parece bom.
A vista para o sol da tarde também é bonita! A gente só precisa olhar para as mudanças com outros olhos =)
4 Comments
Barbara Figueiredo
A cada conquista sua é um turbilhão de emoção que me toma, você é incrível e tem todo meu orgulho.
Thayz Figueirêdo
<3
Nadja Figueiredo
“Moça do céu “, que orgulho de você!!!!
Thayz Figueirêdo
<3